terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Troca de Guarda



"Desperdice, se for o caso, algum breve (mas nada efêmero) momento para concatenar seu eixo de referência – planta baixa com latitude e longitude – balanço secreto dos prós, contras e tão devastadores neutros. Aos poucos, percebe-se que as nossas conquistas todas geram um tipo de linha de costura que representa o personagem que queremos moldar, uma marca d’água vistosa. Visitar um país exótico, pintar uma parede você mesmo, perder algo valioso, se enlouquecer por alguém. Se tornar mestre em algo (pode ser até uma receita: cozinhar é sempre uma bela conquista), fazer as pazes depois de muito tempo, estudar um idioma, ir ao show da sua vida, tomar um porre homérico, ser promovido, ganhar na loteria, ou ganhar dinheiro com algo que até então nunca havia pensado fazer (e gostar!), conversar com alguém que admira muito (e sentir reciprocidade), trocar de carro ou comprar o seu primeiro 0km, perder quilos (!), fazer um grande novo amigo, viajar a trabalho e se divertir, conhecer a sogra, voltar a andar de patins (e conseguir), fazer clareamento nos dentes, ou um corte de cabelo radical, se arrepiar em uma ópera, e chorar em prantos no cinema, parar de fumar de uma vez por todas, fugir da cidade de sopetão com os amigos, receber (e fazer) pequenas surpresas, ser elogiado no trabalho (e um projeto aprovado), fazer trabalho voluntário, participar de uma pesquisa importante, pegar o exame de sangue (bom), flertar com possibilidades mil, ser flertado, votar para presidente, inventar um evento, receber amigos, bater papo com a faxineira, demorar no banho, ganhar um iPad, enviar uma carta, receber um postal de longe, agarrar um cachorro (ambíguo), dar entrada em um apartamento, comer até passar mal (e ficar jogado), se preparar para uma grande festa, chegar em ponto num compromisso importante, aquele todo e qualquer frio no estômago.

Quantas vezes pode-se fazer valer a pena em um mesmo ano? Essas grandes coisas transportam em pequenas cargas a implacável essência de cada um de nós. A diferença é como as enxergamos. E é exatamente assim que o mundo nos enxerga de volta.
Viva plenamente."